Críticas às Danças de Brasileiros são Racistas, Alerta Ativista

As recentes críticas às dancinhas de Vini Jr., por jornalistas esportivos da Espanha, e de toda seleção brasileira na Copa do Mundo, por parte do ex-jogador irlandês Roy Keane, são claras manifestações de racismo, típicas do pensamento dos europeus em relação aos negros brasileiros e africanos. A análise é de Marcelo Carvalho, diretor executivo e fundador do Observatório da Discriminação Racial do Futebol. Fundada por Carvalho em maio de 2014, em Porto Alegre, a entidade vem, desde então, seguindo e denunciando ocorrências de preconceito racial e contra minorias como a comunidade LGBTQIAP+ nos gramados e nas arquibancadas. Atento ao noticiário que chega do Catar, o administrador de empresas não tem dúvidas em denunciar ao BRASILDETODASASCOPAS.BLOGSPOT.COM o racismo eurocentrista. Pergunta: Como vem acompanhando denúncias de racismo e de desrespeito aos direitos humanos nesta Copa? Marcelo Carvalho: Tenho assistido à Copa com muito interesse neste debate a respeito do que o Catar e a Fifa chamariam de manifestações políticas, mas que considero manifestações humanitárias. Isso porque não é um ato político protestar contra o racismo. É um ato humanitário, mas o Catar e a Fifa veem isso de maneira diferente. É muito legal termos visto que a Inglaterra e a Alemanha se empenharam nesta luta (contra preconceitos em relacão a negros, mulheres e comunidade LGBTQIAP+. Por outro lado, sempre se fala que futebol e política não se misturam. Mas se não se misturassem, não haveria esta Copa no Qatar ou não teria havido a Copa na Argentina (1978), sob regime militar. No noticiário que vem do Catar, não estão comentando se há restrições ao direito de ir e vir naquele pais. Sabemos que manifestações de amor e carinho entre gays são proibidas, mas não sabemos se algo (do noticiário) está sendo censurado. Vimos manifestações de racismo e preconceito em jogos como Sérvia x Suíça (os dois países têm posições antagônicas quanto ao Kosovo, oficialmente província da Sérvia) e Espanha x Marrocos (questões a respeito da imigração de marroquinos na Espanha). Manifestações neonazistas, por exemplo, não passam desapercebidas. P: O Observatório vem monitorando esse tipo de ocorrência, mesmo à distância? Carvalho: Sim, estamos monitorando, e a Fifa já abriu inquéritos em relação a gritos homofóbicos da torcida do México; e a cânticos ofensivos da torcida argentina contra Mbappé, da França, e também do jogo entre Sérvia e Suíça. A Fifa está atenta. Importante dizer que ela se manifesta. Poderia fazer mais, mas já é alguma coisa. P: Recentemente, dancinhas de jogadores brasileiros (Neymar, Vini Jr., Raphinha, Paquetá, Richarlison e até o técnico Tite) nas comemorações de gols foram alvos de crítica, e antes da Copa, os passinhos de Vini Jr. pelo Real Madrid causaram polêmica na Espanha. Em seu entender, tais críticas são causadas por preconceito racial? Carvalho: Tenho certeza de que sim, é racismo! Nós nunca acompanhamos críticas às danças do francês Antoine Griezmann, que sempre dançou (ao festejar seus gols), mas é branco. Vemos críticas aos atletas brasileiros negros e aos jogadores e torcedores africanos, cujas danças e roupas nas arquibancadas são alvo de racismo. Vini Jr., na Espanha, também é alvo de racismo. Ele já havia sido vítima de racismo também no Brasil, por ter a pele retinta e um sorriso largo. Na realidade, os racistas querem ver os negros reprimidos, tristes, sob a acusação e desculpa de estarem desrespeitando alguém. Mas é racismo contra os negros. Europeus não aceitam a forma como os negros festejam os gols e celebram a vida. Eles não aceitam nossas vitórias. Eles gostariam de nos ver sempre derrotados. P: A CBF não deveria ter-se manifestado oficialmente em defesa de seus atletas? Carvalho: A CBF pode fazer mais, de maneira semelhante à Fifa. A CBF, a partir da gestão do atual presidente Ednaldo Rodrigues (que é baiano e afro-descendente) se pronuncia contra o racismo, como no jogo amistoso em que a torcida (da Tunísia) jogou bananas sobre Richarlison (a partida terminou em Brasil 4 x 1 Tunísia, em Paris setembro deste ano). O Brasil poderia fazer mais. Poderia estar no grupo que protesta com mais frequência. Eu, pessoalmente, gostaria que os atletas brasileiros se ajoelhassem na hora do Hino Nacional, em um ato contra o racismo. E que a nossa seleção estivesse neste pequeno grupo que se manifesta. O técnico Tite sempre apoiou as dancinhas e dançou junto (nos 4 a 1 sobre a Coreia do Sul, nesta Copa). Isso é importante, porque ele é o técnico da seleção e um homem branco apoiando seus atletas. O Tite dançar junto com o time é algo bem simbólico. Tite já sabia que havia tais críticas às dancinhas, e antes da Copa do Mundo, os jogadores já haviam avisado que teriam passos diferentes para cada gol. A CBF os apoia nos bastidores.

Comentários

  1. Pelo mundo, as manifestações racistas estão crescendo, as pessoas estão mais à vontade para assumir este retrocesso. De maneira antagônica, as instituições estão timidamente protestando contra esse tipo de manifestação em desfavor das minorias. Sem dúvida, há necessidade de uma dedicação maior a manifestações que condenem o racismo e a discriminação das minorias. Lembrando que no Brasil, racismo é crime e, por analogia, homofobia também.

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