Lívia Caroline: Uma 'Sheikha' Brasileira no Centro de Imprensa do Khalifa Stadium

Há quase dez anos atuando em eventos da Fifa, desde a Copa das Confederações de 2013, no Brasil, a jornalista e relações públicas brasileira Lívia Carolline Neves (ao alto, em reprodução do Instagram) não faz gols nem pratica defesas. Mas integra uma seleção da entidade oficial do futebol, sem a qual as grandes jogadas dos maiores craques dificilmente chegariam ao grande público. Ela vem atuando como subgerente de Mídia do Khalifa Stadium, em Doha, o mais tradicional desta Copa do Mundo, no Catar. Inaugurado em 1976 e sede de grandes eventos esportivos internacionais, o estádio foi remodelado para este Mundial. Com capacidade para 45 mil pessoas, o estádio terá sua última participação no megaevento no sábado, dia 17, na decisão do terceiro lugar. Aos 44 anos de idade, metade deles dedicado ao jornalismo e às relações públicas, Lívia, brasiliense radicada no Rio, está em seu segundo Mundial masculino, após o de 2014, além de já ter trabalhado também em Copas do Mundo femininas. Para a jornalista, profissionais brasileiros que trabalharam na Copa de 2014 estão no megaevento do Catar graças ao aprendizado no Mundial do Brasil. A Copa em Doha tem aberto muitas oportunidades ao trabalho de mulheres como ela em postos-chave da organização. A seguir, o bate-bola de Lívia Carolline com o BRASILDETODASASCOPAS.BLOGSPOT.COM: PERGUNTA: Qual o trabalho que vem desempenhando nesta Copa do Mundo, no Khalifa Stadium? Há outros brasileiros na sua equipe? LÍVIA: Sou subgerente de mídia do Estádio Khalifa. Na minha equipe, não há mais brasileiros. Mas na equipe que trabalha no Khalifa Stadium, há muitos brasileiros, e isto é muito legal. A gente vê que o maior legado da Copa do Mundo Brasil-2014 são os brasileiros, são os profissionais que a gente ali formou e que agora estão espalhados pelo mundo. Muita gente boa, fazendo o trabalho com excelência e deixando o seu rastro por onde passam. Um rastro de excelência, de profissionalismo, de comprometimento. P: Você já havia feito outros trabalhos para a Fifa antes. O de agora é o mais especial? LÍVIA: Sim, já fiz vários eventos, vários Mundiais da Fifa com uma predominância de eventos femininos. Na verdade, este é meu segundo Mundial masculino (o primeiro em 2014). Mas se tem um gostinho especial, acho que tem, por a gente estar num país muito diferente do nosso, numa cultura assim tão diversa da nossa, mas num lugar que pra mim me fascina, que eu aprendo tanto. Outro dia eu ouvi de uma das minhas voluntárias, que é catari, que nasceu aqui, ela dizer assim: 'Como é legal ver tantas mulheres em posições de destaque aqui nesta competição'. Isso deixa a gente muito orgulhoso. Isso impulsiona a gente...Então, se essa Copa é especial, é, porque, de maneira muito orgânica, muito natural, a gente tem ensinado, tem levado valores aqui para esta nação. Às vezes, a gente nem sabe, mas está trazendo muita coisa pra eles. Ouvir isso de uma mulher, que ela tem este olhar, esta sensibilidade...Por exemplo, a gerente de logística do Khalifa é uma mulher e uma brasileira, Karina Vasconcelos. A gerente de hospitalidade, também outra brasileira, Brenda Araújo. Só destas mulheres, de nós mulheres estarmos tendo estes lugares de destaque serve como inspiracão para tantas outras. Como motivo. Impulsiona, e isso é muito bacana. P: Mesmo no corre-corre teve um tempinho de torcer pelo Brasil? LÍVIA: A gente sempre achava um tempinho de assistir o Brasil, né? Infelizmente foi para casa. A Copa continua, a gente fica com o coração apertado...Mas a gente tem eventos pra entregar e vamos entregar com excelência. P: Pode falar sobre a estrutura montada no Catar, em comparação a outras sedes? E em relação aos profissionais? LÍVIA: O Catar se preparou. Verdadeiramente se preparou para esta Copa, para este evento épico nesta região, e em relação aos profissionais, tem muita gente boa do Brasil. Vemos profissionais de primeira. E também da Rússia (sede do Mundial-2018). É um passar de conhecimento, né? Tem sido uma experiência muito, muito gratificante. P: Verdade que você fez carreira como atleta, antes do jornalismo? LÍVIA: Fiz natação. Trabalhei com atletismo no Vasco como estagiária de jornalismo, mas minha carreira esportiva foi na natacão. Depois, veio o jornalismo, vieram as relações públicas, e quase veio a psicologia, mas acabei não concluindo. P: Como é para uma mulher negra ter uma carreira e uma presença reconhecidas na Fifa? Como dribla os preconceitos? LÍVIA: Digo que às vezes é complicado. Nós mulheres, e isso não é mimimi, porque não preciso estar ancorada em mimimi, mas nós mulheres sempre temos de dar um passo a mais. Correr uma milha extra. Para mostrar que somos capazes. Agradeço à Fifa porque sempre deu espaço às mulheres. Agora, mais do que nunca, nos eventos femininos, vemos uma presença ainda maior de mulheres em áreas em que antes só haviam homens, como, por exemplo, segurança e transporte. Na última edição, França-2019, no Mundial Feminino, a gente conseguia ver nitidamente uma presença muito maior de mulheres. A Fifa sempre priorizou em dar esse espaço. Preconceito?...Sempre existe, né? Mas estou tão calejada... Às vezes se tem, a gente dribla de uma tal maneira que a gente constrange as pessoas que, porventura, pensaram em ter esse preconceito. É desta maneira que tenho vivido minha vida, tenho construído minha carreira profissional. Graças a Deus, tem dado certo. Graças a um Deus que tudo pode, e Ele está fazendo, está podendo na minha vida, desde sempre e pra sempre. A gente vai só fazendo com excelência, sendo grata a tudo que nos é proporcionado. Sobre o Khalifa, ele foi inaugurado em 1976, eu soube aqui que o Pelé e o time do Santos vieram jogar aqui em 1973. Foi quando eles perceberam que o Catar não tinha um espaço, um estádio à altura para receber jogos. Foi quando pensaram em construir o Khalifa por causa da vinda do Pelé aqui. Para mim, estar trabalhando hoje no Khalifa, neste estádio, o único que não foi construído para a Copa do Mundo, mas foi remodelado, e com esta história e com este background, é uma honra. Eu não posso fazer nada menos que um trabalho espetacular por estar aqui de alguma maneira representando o nosso país e num estádio que tem esta história. Por causa do nosso Rei Pelé, por causa da vinda dele aqui, eles pensaram: 'Nós precisamos ter um estádio'. Aí, começou o Khalifa.

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