Na Copa, uma Versão da Cohab no Catar
"Vai ficar legal/Pagode na Cohab, no maior astral/Em frente à lanchonete/Sambando e fazendo um grande carnaval." Os versos de "Cohab City", do Negritude Júnior, não poderiam ter sido esquecidos por um grupo de torcedores brasileiros que se alimentaram de sonhos e economizaram alguns milhares de reais para poderem estar atualmente na capital do Planeta Futebol: Doha, no Catar, palco da 22a Copa do Mundo. Sob a liderança de alguém que já assistiu in loco a 99 dessas 22 edições, o corretor de imóveis e advogado Flávio Marques (na foto ao alto, com a bandeira do Brasil, ao lado de um amigo catari), cerca de 30 brasileiros estiveram ou ainda estão no Oriente Médio para assistir à Copa. Nesta sexta, às 12h de Brasília (18h locais) eles estarão no Estádio Cidade da Educação, em Al Rayyan, Catar, para torcer pelo Brasil nas quartas de final contra a Croácia.
A lembrança do famoso pagode que homenageia a Cohab, como são conhecidos os conjuntos habitacionais populares em São Paulo faz todo sentido. Afinal, o grupo de brasileiros está hospedado em apartamentos que lembram aquele modelo de habitação e que futuramente vão ser transformados em moradias populares no país da Copa. Denominada oficialmente de Barwa Barahat Al Janoub, a região ganhou o carinhoso apelido de Cohabqatar, que tem até página no instagram: @cohabqatar.
"A maioria do nosso grupo ficou aqui na Cohab. Dos 30, uns 20, 22 ficaram aqui. Alguns ficaram em apartamentos mais perto do Metrô. As instalações aqui são boas, mas ficam a meia hora, 40 minutos do Centro de Doha. Dependendo do estádio, leva até mais tempo. O apelido Cohab começou porque aqui é um projeto que eles construíram para depois da Copa do Mundo, assim como as vilas olimpicas no Brasil, vão virar casas populares. Como a gente tem em São Paulo, principalmente, os conjuntos habitacionais chamados de Cohab, e até tem um pagode em homenagem, o apelido pegou. Cohab, Cohab, Cohab...E agora a gente não conhece por outro nome. Só de brasileiros aqui tem mais de mil. Talvez uns 1.300, 1.500, que a gente tem conhecimento", explicou Flávio pelo Whatsapp.
Sobre o próximo desafio, contra os croatas, ele considera que a selecão brasileira é favorita, mas advertiu, como se diz no interior do Brasil, que "jogo é jogado, e lambari, pescado". Para ele, o primeiro tempo do jogo com os coreanos nas oitavas (Brasil 4 a 1) foi digno do melhor futebol verde e amarelo com 4 a 0 antes do intervalo
"Nesta minha nona Copa do Mundo, a que mais me marcou, lógico, foi a de 1994, nos Estados Unidos. Eu estava atrás do gol do Taffarel, no famoso grito do Galvão Bueno de 'É tetra! É tetra! É tetra!", recordou o paulista de Taubaté, de 62 anos, que reuniu o grupo de torcedores pela Internet.
Como uma viagem para a Copa não envolve apenas o futebol, Flávio e os amigos, que já o acompanharam noutras aventuras esportivas, aproveitam também para, de gol em gol, conhecerem o mundo:
"Em relação a surpresas e beleza do país, a melhor foi a Rússia há quatro anos. A gente, por ter muita influência americana, sempre ouviu falar muito mal da Rússia...O russo era sempre o bandido, o espião, o que tinha arma nuclear era o russo... Qual não foi nossa surpresa, além da beleza da mulher russa, a simpatia do povo com a gente. Foi uma coisa... A gente parecia atração turística. A gente não conseguia parar de ser fotografado...Além das cidades que eu conheci, que foram Rostov, São Petersburgo, que eu já conhecia, e retornei, Moscou, que eu já conhecia, Samara, que é regular, e Kazan, que fica no começo da Ásia, na chamada Eurásia russa, que é uma cidade maravilhosa. Kazan, de Genghis Khan de outros, maravilhosa".
Sobre a adaptacão às regras do país com relação ao consumo de bebida alcoólica e outros costumes, Flávio observou que é possível, por exemplo, beber cervejas em bares e hotéis onde há vida noturna e que têm licença para a venda de álcool a estrangeiros.
"Só que é caro. Uma cerveja aqui custa 35 rials catarianos (moeda local), o que vale de R$50 a R$55. Mas dá pra beber, e o pessoal se virou", comentou ele. "Sobre as mulheres, notamos que não é tão fechado assim quanto parecia. As mulheres que vestem preto são extremamente educadas, muito simpáticas, muito cheirosas, e algumas, dentro do que dá pra se ver, são muito bonitas. Também notamos que o povo catari é mais rico que os outros. São os homens de túnica branca, de Iphone, Porsche, Ferrari, e todos perfumados também. Os mais pobres aqui são os imigrantes das Filipinas, Índia, Bangladesh, Sri Lanka, Marrocos e outros mais."
Embora animado e empenhado na torcida pelo Brasil, Flávio é experiente e procura afastar quaisquer excessos de otimismo para as finais deste Mundial.
'A Copa é cheia de detalhe, como sorte, mas espero que estejamos na final, sim. Dificil... A gente vai ter provavelmente Holanda ou Argentina pela frente, se passarmos pela Croácia. Do outro lado, a surpresa do Marrocos (que se passar por Portugal) vai jogar com França ou Inglaterra. Eu adoraria ver o Marrocos numa final, e se o Brasil tivesse que perder para alguém, não que eu queira, que fosse o Marrocos. Seria a primeira nação africana campeã mundial, para tirar aquela coisa de Europa ou América do Sul. Acho que não tem condições, mas como a Grécia já foi campeã da Europa, podem ocorrer surpresas assim", encerrou.



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