Para Dirigente de Entidade Anti-Racista, Futebol Brasileiro só tem Negros Dentro de Campo

Dando prosseguimento à entrevista ao BRASILDETODASASCOPAS.BLogspot.com, Marcelo Carvalho, do Observatório da Discriminação Racial do Futebol (foto acima), considera que o fato de haverem poucos torcedores brasileiros negros nas tribunas nos estádios da Copa do Mundo do Catar só comprova a discrminação racial e econômica que prevalece no nosso país. E acrescenta que, embora o futebol seja visto como uma plataforma de ascensão social de famílias negras, os afro-descencentes não conseguem ocupar cargos de direção. São vistos apenas como pé de obra, ou seja, aqueles que têm espaço apenas como operários da bola, dentro das quatro linhas. P: Foi muito comentada no início do Mundial a atitude da Alemanha, cujos jogadores posaram com as mãos na boca, em sinal de protesto. Carvalho: Aquele gesto incomodou muito o Catar, que torceu abertamente contra os alemães na Copa. O mais grave foi que a imprensa do Catar torceu contra os alemães. É mais grave, porque os jornalistas deveriam ser aqueles que denunciam os abusos e estão dolado dos oprimidos. P: Como tem acompanhado a situação das mulheres do Catar e de outros países, como o Irã (tanto o Catar quanto o Irã já foram eliminados da competicão)? Carvalho: As mulheres do Catar têm a questão das vestimentas, mas as do Irã enfrentam uma tensão muito mais forte. A Copa do Mundo deveria servir para as iranianas voltarem aos estádios. Mas, pelo que sabemos, pessoas que o Irã enviou a Doha não são todas da torcida. Também foram para lá iranianos encarregados de reprimir qualquer manifestacão (das mulheres, por exemplo). P: Torcedores brasileiros que ficaram no nosso país e alguns jornalistas brasileiros têm comentado sobre o fato de que a torcida brasileira nos estádios no Catar tem imensa maioria de pessoas brancas. Quase não há negros. Como analisa essa situação? Carvalho: No meu ponto de vista, não surpreende o fato de a maioria da torcida ser branca. É o racismo do Brasil. Na pirâmide social, os negros estão nos níveis mais baixos. No Catar, tudo é muito caro, tanto a passagem quanto a hospedagem. Daí, o público brasileiro enbranquecido. É o retrato do nosso país. Aqui mesmo, nas novas arenas (inauguradas para a Copa de 2014), os estádios enbranqueceram muito com as setorizações das arenas. Os espaços mais caros ficam no meio dos estádios, e são mais ocupados por brancos. Aparecem mais na TV. Os setores mais baratos ficam atrás dos gols. No Catar, não tinha como ser diferente. O poder aquisitivo não nos deixa (os negros) chegar ao Catar. P: Depois da Copa, o Observatório vai lançar algum relatório sobre casos de racismo e preconceito durante a Copa? Carvalho: A ideia é esperar o Mundial terminar, para fazer um levantamento junto à Fifa e apurar casos de racismo, LGBTfobia, nazismo, fascismo, intolerância contra as mulheres. A proposta é lançar nosso relatório em janeiro ou fevereiro, com base na Copa. A Fifa enviou observadores de todos os 32 países competidores, para monitorar esse tipo de ocorrência. No nosso caso, o Observatório vem negociando patrocínios, para ampliar sua equipe e desenvolver nosso trabalho. P: O futebol era elitizado quando chegou ao Brasil (no fim do século 19) e depois do profissionalismo, na década de 1930, se tornou uma plataforma de ascensão social do negro. Qual o panorama atual do Brasil em relação ao futebol e à sociedade? Carvalho: Por muito tempo, o futebol foi visto como uma das poucas ou únicas oportunidades de ascensão social. Eram o futebol e a música. Graças a Deus, vemos hoje profissionais negros em diversas áreas da economia. O futebol explica muito o que é o Brasil. Ignorar isto é achar que estamos noutro país. Olhamos o futebol como um espaço de ascensão social, mas nos iludimos porque ele nunca foi um espaço democrático. Negros e negras sempre estiveram lá como pé de obra, porque não temos técnicos nem dirigentes negros, e a mídia especializada é branca. O futebol nunca se tornou um espaço democrático (no Brasil). Abriu espaços para o pé de obra, mas não no seu comando, que ainsa é branco Em 2022, pela primeira vez, a CBF tem u presidente negro (Ednaldo Rodrigues) Mas a maioria das federações estaduais talvez nunca tenha tido um presiente negro. Apenas o espaço dentro das quatro linhas é reservado aos negros.

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